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domingo, 25 de junho de 2017

Carta aberta de uma estudante a Lula



Não há tempo para temer e não temos nada a esperar. É hora de desobedecer. Continuemos nadando contra a correnteza. A minha luta, que é a mesma de tantas pessoas, pode ser vencida. E nós vamos vencer. Jamais vamos desistir. Jamais vou desistir de lutar. Luto é verbo. Verbo é ação. Se existe algo que ainda podemos fazer é resistir. Então, sigamos em frente sempre. Quem sabe assim, a gente consiga minimizar a tolerância de um Brasil tão intolerante. Obrigada, querido presidente, por não se cansar de lutar por nós", escreve Maria Eduarda Paschoalini


Carta aberta ao presidente Lula.

Por Maria Eduarda Paschoalini

Querido presidente (permita-me te chamar assim),

primeiramente, além de dizer “Fora, Temer”, gostaria de me apresentar. Prazer. Meu nome é Maria Eduarda Paschoalini, mas, em síntese, prefiro Duda. Tenho 16 anos - com título de eleitor feito no dia 10/05, dia do seu depoimento ao Moro, como uma forma de homenagem ao melhor presidente que este país já teve.

Sou de Ubá-MG e tenho muito orgulho de minhas raízes. Futura professora. Filha de professores que não se cansam em lutar para que me proporcionem as oportunidades que eles não tiveram. Minha mãe, professora do Estado, sempre me diz que não tem heranças para me deixar. Por isso, pode investir na minha educação.

A minha herança é a educação. Sempre estudei em escola particular, o que faz com que muitos achem que eu não devo estar na militância. Sabe, muitos falam que eu devo me mudar para escola pública, pois é muito injusto estar na particular. Respondo que é necessária a minha insistência em continuar na rede privada.

Quem sabe eu não consigo conscientizar mais pessoas de que o social é muito mais importante do que qualquer lucro presente em nossa sociedade? Quem sabe eu não consiga trazer mais gente para a difícil e árdua militância? Quem sabe eu não ajude pelo menos uma pessoa a abrir os olhos e não só ver, e, sim, enxergar? Não preciso de ser estudante da rede pública para lutar por uma educação pública melhor. Nem de ser negra para lutar pelos negros, nem de ser homossexual para lutar contra a LGBTfobia. Passei por momentos terríveis no ano passado. Problemas psicológicos tomaram conta de mim. Diagnósticos, remédios. Eis que, um dia, consigo me levantar.

Aceitei o convite de minha mãe para ir a um debate sobre a PEC 55 (Na época, PEC 241) na Câmara Municipal daqui de Ubá. Após um dia inteiro de aula (de 07h00 até 17h30), acompanhei-a. Eu nem gostava de política. Na sinceridade, achava suja, corrupta e chata. Eu só defendia a Dilma, sempre defendi. Colei adesivos na campanha de 2014 e saí às ruas com minha mãe para fazer campanha. Tudo isso por pura influência. Eu não tinha base, nem argumentos. Enfim. Cheguei ao local e minha mãe viu a Beatriz Cerqueira, presidenta da CUT Minas e coordenadora-geral do Sind-UTE MG, chegando. Ela ficou toda feliz, disse que era fã de Bia. Encantei-me por ela e por sua luta.

A partir daí, encontrei na luta o meu refúgio. Consegui me reerguer. Um mês depois, eu já estava procurando movimentos para participar. Comecei pelo CRB - Na escola (Curso da Realidade Brasileira), em uma escola da rede pública aqui de Ubá. Do CRB, fui para o Levante Popular da Juventude, em que me encontro como militante. Agora, entrei no Parlamento Jovem de Minas de Ubá, além de participar de movimentos de liderança na escola e na igreja. A luta me reergueu. A luta me levantou à vida de volta. Hoje, tenho base e argumentos suficientes para saber defender os meus ideais, o meu ponto de vista. Falando em meus ideais, eles batem com os seus, meu eterno presidente. Entre transtornos e mais transtornos do dia-a-dia, descobri que gosto de lidar com pessoas, de todos os tipos. Não me importo com classe, raça, etnia.

Não me importo com o exterior. Lidar com ser humano é além de aparência. É lidar com sentimento, com psicológico. É lidar com o interior. Eu gosto disso. Dentro desses transtornos, acabei descobrindo que quero ser professora de Língua Portuguesa. Sou apaixonada por nossa língua, nossa cultura, nossa nação, nossa pátria. Quero ser a mudança, tanto na área da educação, quanto em qualquer outra área. Quero descortinar essa vergonhosa e pavorosa jogatina que infelizmente esse grande e belo país está mergulhado.

Então, descubro que entrei em dois barcos difíceis: professora e militante. Sou de esquerda, com todo o orgulho. E digo, com toda a certeza, que não precisei de ser manipulada, doutrinada para acreditar em algo. Não, minha família não é petista (apenas minha mãe). Conclui, por mim mesma, os meus próprios ideais. Estes consistem em prevalecer o social. Igualdade para todos. É o que quero. Não sou pobre, mas também não sou rica. Tenho condições boas. Boas o suficiente para saber que não devo olhar apenas para mim. O mundo não gira em torno de mim. Precisamos de olhar ao nosso redor e ver as diferenças, aprender a respeitá-las.

Precisamos de saber escutar, enxergar o próximo. Faz-se necessário olhar para cada canto do nosso país e entender que a luta é contínua. Pelo norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste, a luta é por nós e essa luta se subdivide em muitas outras. Eu luto pelo fim do racismo, do machismo, da cultura do estupro, da homofobia e da misoginia. Estes assuntos matam milhares de pessoas diariamente. Por que isso? Nascemos todos iguais e livres. Livres para sermos o que quisermos. Preto, branco, gay, heterossexual, rico, pobre, santo, ateu. Todos nós somos, além de todos os esteriótipos, humanos. Luto para que os meus filhos e para que os filhos dos meus filhos tenham uma educação de qualidade, assim como eu estou lutando para eu ter.  Luto para que a mulher continue conquistando o seu devido lugar em nossa sociedade.

Luto para que a mulher não seja mandada de volta para o lar. Nem seja recatada, nem bela. Luto para que a mulher seja do jeito que ela quiser e esteja no lugar em que ela quiser. Luto para que o negro não seja mandado de volta para a senzala. Nem para que o homossexual seja espancado até a morte. Luto para que não haja a intolerância religiosa. Luto para que não tenhamos mais golpes, em qualquer lugar ou circunstância. Luto contra a corrupção. Luto para que a justiça seja feita, fazendo com que não haja mais impeachments sem crimes de responsabilidade comprovados. Luto por um mundo onde sejamos socialmente iguais. Luto para que a gente vá às ruas sempre. Luto contra o preconceito, a violência e a intolerância. Luto para que a coragem atinja a todas as pessoas, de qualquer idade. A coragem para não nos calarmos diante de tantas injustiças.

Luto para que mais estudantes enfrentem quem quer nos derrubar e soltem a voz. Luto para que ninguém tenha nenhuma palavra presa na garganta. Luto para que nós não elejamos a ganância e o cinismo. Luto contra o fim da poesia. Luto contra o retrocesso, contra o conservadorismo, contra a extinção de direitos. Luto contra governos ilegítimos. Luto para que ninguém fique calado, para que ninguém sofra, seja com tortura física ou psicológica. Luto contra a meritocracia. Luto para que o gás de pimenta, as bombas e meios como estes, não sejam utilizados contra a nossa militância. Luto contra a miséria. Luto contra a fome. Luto contra a invisibilidade de tantos aos olhos da nação. Luto contra o fascismo. Luto para que tenhamos mais ocupações, mais manifestações, mais paralisações. Luto contra a mídia manipuladora. Luto contra o analfabetismo funcional. Luto contra a PEC 55, contra a reforma do Ensino Médio, contra a medida provisória, contra a Reforma da Previdência (PEC 287), contra a Lei da Terceirização, contra a Reforma Trabalhista. Luto para que tenhamos reformas sim, mas uma reforma debatida com profissionais das áreas que sofrerão mudanças.

Luto contra a Lei da Mordaça. Escola sem pensamento crítico/sem partido não é escola. Luto para que a gente não abaixe a cabeça nunca. Luto por minha principal bandeira: a educação. Luto pelo futuro do meu país, do nosso país, do país dos meus filhos e dos meus netos. Luto contra a ditadura, contra a opressão militar. Luto pelos movimentos sindicais. Luto para que o Brasil veja que um filho dele não foge à luta. Luto para que não continuemos com esse cenário abissal. Luto para que não tenhamos que temer. Luto para que tenhamos sempre conhecimento, organização, querer e disposição. Luto para que a resiliência seja constante em nossas vidas. Luto para que a nossa democracia volte, junto com os nossos direitos conquistados ao longo de tanto tempo. Luto para que haja dignidade e honestidade em qualquer área do nosso país. Luto para que ninguém tenha medo de ser feliz, de ter esperança. Luto para que esse cálice seja afastado de nós. Luto para que a chama da esperança se reacenda todos os dias no coração de cada brasileira e brasileiro que ousa lutar. Luto para que o nosso poder popular seja cada vez mais concretizado. Luto para que o sol volte amanhã, sem nenhuma escuridão. O sol vai raiar. A luta não tem fim, é permanente. Só a luta nos garante.

Não há tempo para temer e não temos nada a esperar. É hora de desobedecer. Continuemos nadando contra a correnteza. A minha luta, que é a mesma de tantas pessoas, pode ser vencida. E nós vamos vencer. Jamais vamos desistir. Jamais vou desistir de lutar. Luto é verbo. Verbo é ação. Se existe algo que ainda podemos fazer é resistir. Então, sigamos em frente sempre. Quem sabe assim, a gente consiga minimizar a tolerância de um Brasil tão intolerante. Obrigada, querido presidente, por não se cansar de lutar por nós. Para nós. Conosco. Você é um dos meus maiores exemplos e eu tenho muito orgulho em defender alguém que não era nada. Pobre, filho de analfabetos, imigrante nordestino e operário. Depois, foi sindicalista, deputado. Fundou o PT e foi candidato à presidência da república. Como não era nada, apenas uma voz que acreditava na democracia e acreditava que era possível acabar com a desigualdade, perdeu a eleição três vezes. Mas nunca perdeu a esperança. Por isso, tornou-se tudo.

Gratidão, companheiro, por me ensinar que uma só voz pode ecoar nos corações de inúmeras pessoas. Gratidão por ser quem você é e por me inspirar tanto. Sonho em um dia te conhecer e poder te abraçar, como uma forma de agradecimento por tudo o que você fez e faz por nós. A casa grande surta quando a senzala resolve mandar uma carta ao Lula agradecendo-o por tudo. Conte comigo sempre. Estamos juntos, companheiro!

Com muito amor, companheirismo, resistência, luta, resiliência e força; Duda. 



Fonte:
Com informações de agencias e Portal Linha Direta

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